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sábado, 24 de agosto de 2013

A VOLTA À CASA BRANCA

“Incultas produções da mocidade 
Exponho a vossos olhos, ó leitores: 
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade, 
Que elas buscam piedade, e não louvores."

"Bocage"

Amigo, hoje eu retornei
À casa branca da serra,
De longe já avistei
Um caboclo lavrando terra.

Chorei quando percebi
Que era meu pai, já bem velhinho,
Com sua enxada afiada
Carpindo devagarinho.

Na “arinha” do terreiro,
De longe eu já pude ver,
Uma velhinha arcada
Trabalhando sem poder.

No tanque, lavando roupas,
Era a minha velha mãezinha
Que, até hoje, ainda chora
Por causa da ausência minha.

Cada pranto que mamãe
Chorou eu também chorei,
Distante dos seus carinhos,
Quantas vezes eu pensei

De voltar pra essa casa
Pra rever minha mãezinha,
Mas, a coragem não dava,
É por isso que eu não vinha.

Não sabia se ao chegar
Iria ser bem recebido,
Por ter magoado seu peito,
Tê-lo deixado ferido,

Mas, sei que o amor de mãe
Nem o tempo o corrói,
Vim curar seu coração
Porque sei que ainda dói.

Quando cheguei ao terreiro
O meu pai veio correndo,
Jogou a enxada dum lado
E me abraçou dizendo:

―Que saudade meu filhinho!
Que bom você ter voltado!
Desde quando você foi
Sua mãe só tem chorado.

Quando olhei para mamãe
O meu rosto se orvalhou,
Quis pedir perdão a ela,
Mas, a minha voz falhou;

A coitada da velhinha
Me abraçou entristecida
E me disse, entre soluços:
―Você devolveu minha vida!

Quando encontrei meus irmãos
Quase não os conheci,
Muitos anos se passaram,
Eu também envelheci.

A saudade era demais
(Muito tempo, separados),
Nem lembraram que um dia,
Por mim, foram abandonados.

De joelhos sobre o chão
Eu contei a minha história...
As pancadas que levei,
As derrotas... as vitórias...

E eles me perdoaram
E me aceitaram de novo.
Agora vou ser feliz,
Para sempre, com meu povo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CASA BRANCA DA SERRA

Oi amigos, tudo bem? Estou começando, hoje, uma nova fase de postagens no Blog do Bicho do Mato. Nesta nova fase vou postar algumas das poesias que escrevi em minha mocidade. Para identificar essas poesias, abrirei cada postagem com a primeira estrofe deste soneto do poeta português “Manuel Maria Barbosa Du Bocage”:

“Incultas produções da mocidade 
Exponho a vossos olhos, ó leitores: 
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade, 
Que elas buscam piedade, e não louvores. 

Ponderai da Fortuna a variedade 
Nos meus suspiros, lágrimas e amores; 
Notai dos males seus a imensidade, 
A curta duração de seus favores;

E se entre versos mil de sentimento 
Encontrardes alguns cuja aparência 
Indique festival contentamento, 

Crede, ó mortais, que foram com violência 
Escritos pela mão do Fingimento, 
Cantados pela voz da Dependência.”


Não espero que gostem, pois, as poesias são, ainda, mais rústicas que as que eu tenho postado, mas, peço que leiam e comentem, pois, isso me fará feliz.

E, para começar, vou postar a primeira poesia que escrevi há dezenove anos, isso foi em meados de 1994, eu tinha dezesseis anos. O texto, na verdade, é a letra de uma música caipira que pode ser cantada no ritmo de “moda de viola”, é tecnicamente muito ruim, é só para mostrar como eram meus primeiros textos. Às vezes, na roça, trabalhando, eu criava as composições e as memorizava, só depois as escrevia, isso me custou muitas perdas, pois, acontecia, às vezes, de eu me distrair com outras coisas e esquecer a poesia antes de escrever, mas, sobraram muitas e nos próximos dias, conforme dito acima, vou postá-las aqui.

Só peço que não caçoem dos textos, levem em consideração que foram criados por um semianalfabeto, brotaram de um solo completamente bruto e foram regados pela dor, mágoa e desprezo...


Abraços a todos.

CASA BRANCA DA SERRA

Na casa branca da serra
Lugar onde eu nasci,
Junto com meus irmãozinhos
Foi lá mesmo que cresci,
Com papai e com mamãe,
Todos gostavam de mim,
Mas, o destino ingrato
Nessa união pôs fim.

Há muitos anos atrás
De lá eu me despedi,
Minha mãe falou chorando:
―Meu filho não vá partir!
Eu disse para mamãe:
―Lamento, mas devo ir,
Aqui não posso ficar...
(Vi seu coração partir).

Joguei a mala nas costas
E segui o meu caminho
E muitas léguas, distante,
Hoje vivo tão sozinho,
Sem papai e sem mamãe,
Os amigos e os maninhos,
Vivendo com a saudade
Neste meu triste ranchinho.

Um filho que sai de casa
Sorte ele não pode ter,
Pois, ele deixa pra trás
Um coração a sofrer,
Da sua velha mãezinha
Que o ajudou a crescer,
Sozinha triste a chorar,
Vai sofrendo até morrer.

A mulher que eu amava,
Por quem meus pais eu deixei,
Mais tarde também foi embora
E na solidão fiquei,
Recordando os bons momentos
Que com meu povo passei...
À casa branca da serra,
Um dia eu retornarei.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

AFÃ

Oi amigos, tudo bem? Foi com muita satisfação que participei, no mês passado, do 8º Concurso de Poesias Pena de Ouro do Ostra da Poesia, o blog da amiga Lindalva. 

Meu poema "Afã" esteve entre os dez que participaram da segunda fase, o que me deixou muito feliz.

Por estar afastado do Blog nesses últimos dias, não pude participara das finais, como votante, mas, estou hoje de volta, e postarei, orgulhosamente, o selo de participação e o poema com o qual concorri.

Agradeço a amiga Lindalva pelo convite  e lhe dou meus parabéns pela bela organização do evento. Também agradeço todos os votantes que prestigiaram nossa arte e dou meus parabéns a todos os participantes, em especial aos grandes vencedores, os amigos: Carlos Rímolo e Euzira. Um grande abraço para todos e até o próximo, se Deus quiser.





AFÃ

Hoje acordei tão triste,
Beijei o teu retrato e chorei...
Liguei o rádio, a canção falava
De um amor impossível igual ao meu.

Saí a caminhar pelo jardim. As flores
Exalavam um perfume que lembrava o teu cheiro.
Quis colher uma rosa rubra, tão bonita,
Mas, me feri no pontiagudo espinho traiçoeiro.

A suave brisa da manhã
Veio beijar meu rosto umedecido,
Os pássaros cantaram em harmonia
E o sol brilhou, deixando tudo colorido.
A natureza sorridente festejava...:
A relva molhadinha de sereno,
As gotinhas de orvalho a brilhar...
Em tudo ao meu redor, o belo era pleno.

Tudo queria me tirar da dor,
Tudo queria me fazer sorrir...
Tudo estava tão bonito e perfeito...!
Mas, nada inibia o afã de te sentir.