Inspirado na cantiga popular: "Atirei o pau no gato",
da qual uso a primeira estrofe, ente aspas.
“Atirei o pau no gato,
Mas, o gato não morreu.
Dona Chica admirou-se
Do berro que o gato deu.”
O pobre do animal
Ficou todo espatifado,
Se arrastava pelo chão
Miando, desesperado.
Dona Chica, muito braba
Com a minha malvadeza,
Tentava agarrar o gato
Com a maior ligeireza.
Ela perguntou pra mim:
―Seu malfazejo tirano,
Por que, que você fez isso
Com o pobre do bichano?
Vendo o coitado do bicho
Sofrendo daquele jeito,
Um remorso muito grande
Foi apertando meu peito.
Então, disse à dona Chica:
―Já sei o que vou fazer
Para evitar que seu gato
Venha, assim, a falecer;
Um animal inocente
Não merece esse fadário!
Vamos levar o bichano,
Logo, ao veterinário.
Dona Chica colocou
O animal numa sesta
E me disse desse jeito:
―Vamos logo sua besta!
Eu entrei no automóvel,
Dei partida no motor,
Saí cantando pneu
À procura do doutor.
Quando o homem viu o gato,
Tremeu e teve arrepio;
Nervoso, foi pro meu lado
E, quase me agrediu.
Me falou, muito irritado:
―Seu monstro sem coração,
O bicho não tem juízo,
Não merece punição!
Não sei se vou conseguir
Desfazer todo esse dano,
Nunca vi tanta maldade
Somente em um ser humano.
O doutor veterinário,
Logo, operou o gatinho,
Conteve as hemorragias
Com jeito e muito carinho,
Engessou suas patinhas,
C’um talento sem igual,
Devolvendo a luz da vida
Aos olhos do animal.
Aplicou soro no bicho,
Fez todo o medicamento,
E, ele cuidou do gato
Até o fim do tratamento.
Com pouco tempo, o bichano
Já corria pela casa,
Fazia suas gatices,
Parecia até ter asa.
Graças ao bom coração
De um homem sábio, de fato,
Que usou seu conhecimento
Pra salvar o pobre gato.
Na casa de dona Chica
Fui passear, outro dia,
Vi o bichano saudável,
Brincando com alegria.
Quase chorei de emoção
Quando avistei o gatinho,
Ele veio ronronando
E me fazendo carinho.
Esse fato me ensinou
O que é ser racional.
Nunca mais, em minha vida,
Eu maltrato um
animal.